Servidor municipal pega “atalho” e vira professor

O Ministério Público da Bahia decidiu prorrogar um inquérito aberto em 2019, com o objetivo de apurar o que parece ser caso singular de desvio de função. Em Umburanas, município da região norte da Bahia, um auxiliar de serviços gerais da prefeitura, contratado por meio de concurso público, vinha exercendo a função de professor, dando aulas em colégio municipal.

O motivo da prorrogação é que promotora de Justiça responsável pelo caso decidiu aproveitar a oportunidade para identificar todos os outros casos de desvio de função na administração municipal de Umburanas. No curso da investigação, a prefeitura reconheceu que a prática de desvio de função “é comum, corriqueira, no seio municipal”.

Sobre o caso específico do auxiliar de serviços gerais que virou professor, o MP vai utilizar o sistema de gestão e auditoria do Tribunal de Contas do Município (SIGA-TCM) para identificar os pagamentos efetuados pela Prefeitura de Umburanas ao servidor municipal.

Colégio e prefeitura estão perto de acordo envolvendo R$ 3,6 milhões

Impasse que se arrasta desde 2010, e que envolve a Prefeitura de Lauro de Freitas (BA) e um colégio particular naquele município – o Mendel Vilas –, está perto de um desfecho. Minuta de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) à qual Olho Público teve acesso revela que o colégio terá que indenizar a administração municipal pela ocupação irregular de um terreno de 4,2 mil metros quadrados, avaliado em R$ 3,6 milhões.

A área ocupada pelo Mendel Vilas é pública, “desafetada de sua condição originária de área verde do Loteamento Villas do Atlântico para bem de uso dominial, pela Lei Municipal 1575/2015”, sinaliza a minuta do TAC, cuja redação é do MP. O documento também traz a informação de que o colégio foi notificado da ocupação irregular, mas isso não impediu que o terreno, localizado na Rua Piatã, fosse edificado sem alvará.

Essa minuta de TAC é resultado de inquérito civil aberto em 2010. Para resolver a questão, o MP propõe que o Mendel Vilas adquira e ofereça à Prefeitura de Lauro de Freitas “imóvel no mesmo bairro e pelo mesmo valor, a fim de realizar a permuta”. Se o Mendel Vilas oferecer terreno de menor valor, terá que pagar a diferença. Se preferir, o colégio poderá adquirir o imóvel ocupado, desde que pague à administração municipal o valor venal de R$ 3,6 milhões.

Procurada por Olho Público, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Lauro de Freitas informou que o Mendel Vilas “participou de audiência convocada pelo MP, tomou conhecimento do TAC e está avaliando a melhor alternativa para solucionar a questão”, o que deve ocorrer “nos próximos dias”. O acordo, segundo informação da assessoria de comunicação do MP, já foi assinado pela prefeita Moema Gramacho e pela procuradora de Justiça Maria Augusta de Carvalho.

A assessoria de imprensa do Mendel Vilas não enviou respostas às perguntas encaminhadas por Olho Público. Se assinar o TAC, o colégio de Vilas do Atlântico terá 40 dias para manifestar o interesse na permuta com a Prefeitura de Lauro de Freitas. Se essa oferta for feita, o imóvel indicado pelo colégio será analisado pela Comissão Municipal de Avaliação de Imóveis.

COVID-19: “Evento teste” foi anunciado sem entendimento com o MP

O Ministério Público da Bahia deu prazo de cinco dias úteis para que a Prefeitura de Salvador dê explicações sobre o “evento teste” programado para o dia 29 de julho, com público previsto de 500 pessoas. Olho Público apurou que o prefeito Bruno Reis anunciou esse evento sem alinhamento com o MP, que vem emitindo recomendações para que prefeituras baianas não realizem festejos.

A ideia do “evento teste” surge quando a ocupação dos leitos de UTI para pacientes com COVID-19 na capital baiana ainda está próxima de 60%. A confirmação dos primeiros casos no Brasil de pessoas infectadas com a variante “delta” do vírus – originária da Índia e possivelmente mais contagiosa – é outro fator a ser considerado.

O tom da nota enviada a Olho Público sinaliza que o anúncio do “evento teste” não foi bem recebido pelo MP, que já solicitou “análise da viabilidade técnico-sanitária” à Divisão Epidemiológica da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB). O MP também quer saber se o evento, chamado pela nota de “teste”, foi autorizado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

“O MP questiona a possibilidade da realização do ‘teste’ diante do cenário epidemiológico, com disseminação de variantes do coronavírus possivelmente mais transmissíveis, e das consequências para a população baiana”, afirma a nota enviada ao blog.

Pós-evento

Dentre as informações solicitadas à Prefeitura de Salvador está o detalhamento da “forma de seleção dos voluntários e seu monitoramento no pós-evento: se permanecerão em quarentena, a periodicidade de sua testagem, se será exigido o uso de máscaras durante sua realização, e se haverá distanciamento ou outras medidas de mitigação”.

Em vídeo divulgado no início da semana em redes sociais, o governador Rui Costa classificou o “evento teste” como “não adequado”. Ele afirmou que pretende discutir esse assunto com Bruno Reis, mas já adiantou que não vê momento propício para festejos. “Podemos avaliar eventos pequenos agora, que reúna poucas pessoas, mas eventos de 500, mil, cinco mil pessoas, eu acho que é muito arriscado nesse momento”, pontuou.

Procurada por Olho Público, a Prefeitura de Salvador não se manifestou sobre o pedido de explicações encaminhado pelo Ministério Público da Bahia, tampouco respondeu às questões enviadas pelo blog. Veja as perguntas feitas por Olho Público à Prefeitura de Salvador:

  1. A ideia de fazer o “evento teste” foi discutida previamente com o Ministério Público da Bahia?
  2. Os esclarecimentos solicitados pelo Ministério Público da Bahia serão enviados dentro do prazo estabelecido?
  3. Em razão dessa solicitação, a Prefeitura de Salvador pretende realizar alguma reunião com o Ministério Público da Bahia para discutir o “evento teste”?
  4. A ideia do “evento teste” foi sugerida à Prefeitura de Salvador por alguma empresa, empresário/empresária, associação, sindicato ou outra representação?
  5. Considerando o pedido de explicações encaminhado pelo Ministério Público e a manifestação do governador Rui Costa, que classificou o “evento este” de “não adequado”, a Prefeitura poderá adiar o cancelar esse evento?

Sem licitação, Salvador vai contratar empresa de ônibus “tampão”

A Prefeitura de Salvador adiou a devolução à iniciativa privada da concessão das linhas de ônibus do setor C (Orla/Centro), tomado da Concessionária Salvador Norte (CSN) no final de março. Em vez de fazer licitação semelhante à de 2014, a Secretaria da Mobilidade (SEMOB) contratará uma empresa tampão. Três meses não são tempo suficiente para preparar a licitação? Olho Público lançou essa questão à SEMOB e ao Ministério Público.

Sucateamento da frota, baixa disponibilidade de veículos e R$ 125 milhões em dívidas trabalhistas são fatores que motivaram a rescisão do contrato da CSN. Desde então, a operação das linhas do setor C passou a ser feita diretamente pela Prefeitura de Salvador, com veículos, equipamentos e garagens requisitados à CSN. Motoristas, cobradores, mecânicos e outros profissionais foram contratados pela administração municipal em caráter temporário.

Na justificativa ao chamamento público divulgado hoje (23 de junho), para contratação da empresa tampão, a SEMOB alega que a operação direta das 114 linhas de ônibus “não pode perdurar por muito tempo”, pois “o grande volume de aquisições, quase que diárias, de combustíveis, óleos lubrificantes, peças de reposição e outros insumos”, impõe “inúmeras dificuldades” para a administração municipal.

Sem entrar em detalhes, o edital também traz a informação de que a SEMOB já adotou “todas as providências cabíveis para abertura de uma nova licitação”. No entanto, considerando que já passaram três meses desde a rescisão do contrato com a CSN, Olho Púbico questionou a SEMOB a razão da opção pela contratação temporária, em detrimento da licitação da concessão.

Falta de tempo

Na resposta enviada do blog, a SEMOB informa que a licitação para concessão do setor C será lançada “próximos dias”. Sobre a opção pela empresa tampão, a pasta argumenta que “o processo de concessão requer mais tempo e o comprimento de algumas etapas, como audiências e consultas públicas, por isso a necessidade de contratação de uma empresa temporária”.

Procurada por Olho Público, a promotora de justiça Rita Tourinho, coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Patrimônio Público e da Moralidade Administrativa do MP da Bahia, afirmou que recebeu da SEMOB cópia do edital do chamamento público, mas fez a ressalva de que ainda não analisou o documento, para avaliar a justificativa para contratação de empresa tampão.

O nome da empresa escolhida pela SEMOB para operar temporariamente as 114 linhas de ônibus do setor C será conhecido a partir de 1º de julho. Considerando o prazo do contrato, que é de 180 dias, uma solução definitiva deve ficar para o ano que vem. Em 2014, a CSN arrematou a operação do setor C por R$ 57,8 milhões, garantindo uma concessão que duraria 25 anos.

DESAL não explica contratação de escritório de advocacia sem licitação

Por R$ 30 mil, a Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (DESAL), que é subordinada à Secretaria de Manutenção da Cidade (SEMAN), contratou, com dispensa de licitação, o escritório de advocacia Evanio Antunes, Philigret e Advogados Associados, que atende pelo nome de fantasia Advocacia e Assessoria Jurídica Estratégica (AJAE).

Segundo o resumo de dispensa de licitação publicado na última quarta-feira (30 de junho), o negócio envolve “prestação de consultoria e assessoria, de caráter técnico-especializado, cujos serviços são destinados a controle e acompanhamento da execução de atos administrativos vinculados a processos licitatórios na modalidade pregão eletrônicos”.

Olho Público procurou a assessoria de comunicação da DESAL para obter a justificativa da necessidade dessa contratação, mas não obteve resposta. Se a assessoria de comunicação da SEMAN quiser prestar o esclarecimento negado pela DESAL, o espaço está aberto.

O blog compartilhou com o Ministério Público da Bahia a contratação do escritório de advocacia com dispensa de licitação. Promotora de justiça procurada pelo Olho Público prometeu analisar o caso.

Leu essa matéria em outro local? Saiba que ela foi publicada originalmente por Olho Público. Todas as informações publicadas aqui são dadas em primeira mão, mas podem ser republicadas, desde que Olho Público seja citado como fonte da informação.