Justiça obriga SAEB a repassar valores à ASPRA

Liminar concedida ontem (12 de maio) pela desembargadora Rosita Falcão de Almeida Maia permite que a Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (ASPRA) volte a receber contribuições de seus associados por meio de desconto em folha. O repasse referente aos meses de meses de março e abril estava suspenso.

A decisão de impedir o repasse automático foi da Secretaria da Administração do Estado da Bahia (SAEB), em resposta à convocação de protestos contra a morte do soldado PM Wesley Soares, vítima de um surto psicótico que acabou em troca de tiros com a polícia, na região do Farol da Barra (Salvador), em 28 de março.

Para a SAEB, a mobilização feita pela ASPRA violou Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que proibia a entidade de incitar greve de policiais. Mas no entendimento da desembargadora, a convocação feita pela entidade objetivou “atos pacíficos de protestos”, para “buscar esclarecimentos sobre a morte do soldado”.

A decisão judicial cita ainda que “a fonte de receita da associação impetrante está diretamente atrelada à arrecadação das contribuições dos seus filiados, sendo indispensável mesmo para a sua existência”, e que “a perda dos repasses automáticos, através do cancelamento da rubrica de consignatária da impetrante, certamente impedirá o cumprimento das obrigações assumidas, inclusive em favor dos próprios associados”.

Lentidão protege servidores que fazem negócios com o estado

Utilizando como exemplo um processo administrativo aberto na última quarta-feira (5 de maio) pela Fundação Pedro Calmon (FPC), autarquia vinculada à Secretaria da Cultura da Bahia, Olho Público convida os órgãos de controle da Bahia a serem mais eficientes para impedir que empresas que têm como sócios servidores públicos façam negócios com a administração pública estadual, o que é proibido por lei.

O que chama atenção neste caso específico não é o valor envolvido, mas a lentidão da apuração dos fatos, fenômeno muito comum. Conforme levantamento feito por Olho Público no sistema de consulta do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), nos casos que viram ações judiciais, com o objetivo de restituir valores recebidos de forma irregular, a lentidão dos processos administrativos é fundamental para a impunidade.

O processo aberto ontem pela FPC investiga fatos de 2016. Naquele ano, empresa que tem como sócia servidora lotada naquela autarquia, recebeu R$ 96 mil da Secretaria da Saúde (SESAB), conforme dados da plataforma Transparência Bahia. A lei estadual nº 6.677, de 26/09/1994, proíbe servidor público de “transacionar com o Estado, quando participar de gerência ou administração de empresa privada, de sociedade civil, ou exercer comércio”.

Em 2017, um processo administrativo já tinha sido aberto pela Secretaria da Administração da Bahia (SAEB), com o objetivo de apurar “suposto administrativo (sic) praticado em virtude de servidor ser integrante de quadro societário de empresa que é fornecedora do estado”, conforme registro obtido por Olho Público. Considerando o prazo estabelecido pela portaria da FPC, a conclusão da investigação poderá avançar até outubro.

A pessoa que figura como sócia da fornecedora da SESAB foi dispensada “a pedido” da FPC em dezembro de 2016. O blog perguntou à FPC qual era o tipo de vínculo, mas a assessoria de imprensa não respondeu, alegando o “caráter sigiloso” do processo. No entanto, consulta ao Diário Oficial revela que essa pessoa já atuava na FPC em 2007, onde ocupou cargo de direção. A empresa da qual a ex-servidora ainda é sócia foi aberta no ano 2000, segundo dados da Receita Federal.

Escapar de punições administrativas na Bahia não é difícil. É só apostar na lentidão contumaz dos processos administrativos. O caso envolvendo a ex-servidora da FPC poderá ser mais um exemplo disso, já que “o prazo prescricional para instauração do processo sancionatório é de 5 (cinco anos) e começa a correr a partir do conhecimento do fato ilícito”, conforme estabelece a lei estadual nº 12.209, de 20/04/2011.

Em consulta ao sistema do TJ-BA, Olho Público encontrou nove processos judiciais ativos envolvendo denúncias de pagamentos feitos pela administração pública da Bahia a empresas que têm como sócios servidores estaduais. Quanto ao volume de processos administrativos abertos e concluídos, bem como a soma dos valores pagos irregularmente, só um requerimento via Lei de Acesso à Informação pode revelar. O prazo para resposta é de até 30 dias.

Cartório de tabelião suspeito de feminicídio está sob intervenção

O Tabelionato de Protesto de Títulos da Comarca de Feira de Santana, que tem como delegatário Éden Márcio Lima de Almeida, suspeito de matar a bancária Selma Regina Vieira da Silva, em 2019, está sob intervenção. A suspensão aplicada a Éden é decorrente de um processo administrativo do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA). Para não comprometer as atividades naquele cartório, foi designada uma interventora.

Olho Público não conseguiu confirmar se essa decisão tem relação com a ação penal na qual Éden é réu, pois os códigos dos processos criminal e administrativo não informam resultado, situação comum em questões com sigilo decretado pela Justiça. No entanto, a Lei nº 8.935 (Lei dos Cartórios) prevê que um tabelião pode ser afastado para “apuração de faltas imputadas”.

A interventora designada pelo TJ-BA é Flávia Costalonga Ramos, oficiala titular do Tabelionato de Protesto de Títulos da Comarca de Alagoinhas. Pela condição de interventora, Flávia receberá 30% da renda bruta dos emolumentos do Tabelionato de Protesto de Títulos de Feira de Santana.

Por determinação do TJ-BA, Éden receberá 50% da renda líquida do cartório de Feira de Santana. O restante será depositado em conta bancária especial. Se for absolvido, Éden receberá esse montante, com correção monetária. Se for condenado, os valores depositados ficarão com a interventora.

Prisões revogadas

A prisões de Éden e de sua amante, Anna Carolina Lacerda, foram revogadas no final de fevereiro. Desde então, nenhuma informação sobre este caso foi noticiada. Como Olho Público não pode acessar o processo, foi feito um pedido de informações à Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) para verificar se há mandado em aberto contra o casal. Se a SSP-BA responder, Olho Público atualizará essa matéria.

De acordo com a denúncia feita pelo Ministério Público da Bahia, Selma, que era casada com Eden, morreu após ter sido espancada pelos dois suspeitos, em um apartamento do marido, em Salvador. Na ocasião da denuncia, o promotor responsável pelo caso afirmou que Eden, Selma e Anna Carolina formavam um triângulo amoroso.

Apesar de ter ocorrido em 2019, a morte de Selma Regina Vieira da Silva só foi denunciada dois anos depois. O promotor responsável pelo caso atribuiu essa demora a uma suposta proteção dada pela polícia a Éden Márcio Lima de Almeida, afirmação que que foi rejeitada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Operação Janus: em 13 anos, ação penal acumula 12 juízes declarados suspeitos

Há vários dias, Olho Público tenta obter do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) qual providência será adotada para retomar o andamento da ação penal que envolve 14 réus denunciados por corrupção pela Operação Janus, em 2008. No processo que já se arrasta por 13 anos, sem produzir sentença condenatória, Olho Público encontrou uma situação inusitada: em etapas diferentes do processo, 12 juízes se esquivaram de tomar decisões, declarando-se suspeitos “por razões de foro íntimo”.

Conforme noticiado em primeira mão por Olho Público em 20 de março, o andamento da ação penal está suspenso porque três juízes de uma lista tríplice declararam-se suspeitos. Olho Público questionou ao TJ-BA se há previsão para formação de uma nova lista tríplice, mas não obteve resposta. Por diversas vezes, a assessoria de comunicação do TJ-BA alegou não ter recebido o pedido de informações, apesar do fato de a solicitação ter sido enviada mais de uma vez, por meio de contas em provedores diferentes.

Deflagrada em 2008, a Operação Janus revelou um esquema de venda de facilidades em processos no Judiciário baiano por valores que chegavam a R$ 20 milhões. A ação penal que caminha a passos lentos foi ajuizada naquele ano. Entre os 14 réus desse processo estão dois ex-assessores de desembargadores, uma ex-assessora de juíza, um filho de juíza e um estagiário de direito, além de advogados e empresários.

Olho Público apurou que em pelo menos três situações o processo voltou para juízes que já tinham declarado suspeição.  O ritmo lento da ação penal, que ainda está na primeira instância, poderá contribuir para reduzir o peso das punições aplicadas, especialmente para os réus com idade avançada.

Resolução do TJ-BA divulgada na edição de ontem (25 de março) do Diário da Justiça sinaliza que na “Estratégia do Poder Judiciário da Bahia para o sexênio 2021-2026” estão incluídas as metas de “reduzir, anualmente, em, ao menos, 4% a duração dos processos” e “reduzir, no mínimo, 5% a taxa de prescrição dos processos criminais referentes à crimes de corrupção”.

Olho Público encaminhou um pedido de informações ao Ministério Público da Bahia para saber se o órgão tem conhecimento do significativo número de juízes que se declaram suspeitos na ação penal que envolve os 14 réus denunciados pela Operação Janus. Olho Público também perguntou se alguma medida será tomada pelo MP para que a ação não seja paralisada por falta de juiz.

Aos questionamentos feitos por Olho Público, o MP respondeu da seguinte forma, por meio de mensagem enviada pela assessoria de comunicação: “Suas questões todas pertinentes ao Poder Judiciário, por favor procure a assessoria de imprensa de lá para resolução de suas dúvidas”.


Leu essa matéria em outro local? Saiba que ela foi publicada originalmente por Olho Público. Todas as informações publicadas aqui são dadas em primeira mão, mas podem ser republicadas, desde que Olho Público seja citado como fonte da informação.

Operação Janus: processo criminal para por falta de juízes

Três juízes que poderiam julgar 14 réus em uma ação penal por corrupção passiva ligada à Operação Janus se declararam suspeitos por razões de “foro íntimo”. Dessa forma, o processo relacionado à investigação revelada em 2008 pode sofrer uma pausa, até que nova lista tríplice de juízes seja sorteada pelo Tribunal de Justiça da Bahia.

Apesar de o último juiz da lista ter sinalizado em 28 de fevereiro que não poderia julgar a ação, com a observação da necessidade de sorteio de nova lista tríplice, essa informação só foi publicada no Diário da Justiça Eletrônico de quinta-feira (18 de março), conforme pesquisa feita por Olho Público.  

Deflagrada em 2008, após investigação da Polícia Federal e do Ministério Público da Bahia, a Operação Janus revelou suposto esquema de venda de decisões judiciais com participação de advogados, servidores do Judiciário, o filho de uma juíza e um ex-assessor de um desembargador. As facilidades em processos eram vendidas por valores que chegaram a R$ 20 milhões.

Em 2009, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) afastou preventivamente e abriu processo disciplinar contra duas juízas baianas que também estariam envolvidas na negociação de sentenças, conforme informações obtidas de gravações telefônicas da Operação Janus.

Conduzida em sigilo, mas com acompanhamento da Corregedoria do Tribunal de Justiça, a Operação Janus causou profundo mal-estar no universo jurídico da Bahia. Parte dos réus foram presos e alguns foram considerados foragidos.

A Janus é considerada “mãe” da Operação Faroeste, que 2019 também revelou suposto esquema de venda de sentenças no Judiciário da Bahia, com envolvimento de juízes e desembargadores.

Olho Público entrou em contato com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça da Bahia para saber se há previsão de data para o sorteio de uma nova lista tríplice de juízes. Essa matéria será atualizada assim que a resposta chegar.