Bahia começa a desativar contêineres para cadáveres

A Secretaria da Saúde da Bahia (SESAB) começou a desativar parte dos contêineres refrigerados alugados para o armazenamento temporário de corpos de vítimas da COVID-19. O primeiro equipamento desmobilizado foi utilizado pelo Hospital Ernesto Simões, localizado no bairro do Pau Miúdo, em Salvador. Dois contêineres permanecerão em funcionamento naquele hospital. 

Em maio, Olho Público noticiou com exclusividade a contratação de instalações para guarda de cadáveres de vítimas doença causada pelo vírus SARS-COV-2, que já matou 26,3 mil pessoas na Bahia. Além do Ernesto Simões, três outros hospitais da capital baiana receberam contêineres refrigerados: Couto Maia, Espanhol e Arena Fonte Nova. 

Unidades públicas de saúde em Lauro de Freitas, Feira de Santana, Itabuna, Jacobina, Barreiras e Vitória da Conquista também foram equipadas com contêineres para armazenamento de cadáveres. 

Todos os contêineres refrigerados alugados pela SESAB são fornecidos por uma única empresa, a Stillo Produções. No caso do Ernesto Simões, o custo mensal unitário é de R$ 7,5 mil. Segundo informação obtida por Olho Público junto a um fabricante desse tipo de equipamento, cada contêiner pode armazenar temporariamente até 200 cadáveres. 

Cacau: monilíase é pior do que “vassoura de bruxa”

Um dado importante não foi devidamente percebido, após o alerta feito no início da semana pela Secretaria de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (SEAGRI). A monilíase, doença que afeta plantações de cacau, é considerada pela EMBRAPA como praga “de elevado poder de destruição”.

Em 2018, o então diretor-presidente da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), Guilherme Galvão, deu declarações à imprensa afirmando que se o fungo da monilíase chegasse ao Brasil, “seria um caos”. Ele também afirmou que a praga tem potencial para causar impacto equivalente ou pior do que o da “vassoura de bruxa”, que dizimou a lavoura de cacau da Bahia na década de 1980.

Contra a vassoura de bruxa já existem defensivos que reduzem em até 90% o impacto nos cacaueiros. Clones mais resistentes à praga, desenvolvidos em laboratório, também ajudaram a controlar a vassoura de bruxa na Bahia. Para a monilíase ainda não há técnica de controle eficaz.

A alerta da SEAGRI ocorre após a constatação dos primeiros casos de monilíase no Brasil, identificados no Acre, ao final de junho. Antes de chegar ao Brasil, o fungo percorreu um longo caminho, começando pelo Equador, em 1917. O Brasil era o único produtor de cacau latino-americano que não registrava casos de monilíase.

Abandono do cultivo

Tese de doutorado de 2004, apresentada à Universidade Federal de Viçosa (MG) pelo fitopatologista peruano Rolando Alfredo Rios-Ruiz, revela que na Costa Rica e no Equador, a monilíase provocou perdas de até 90% nas lavouras cacaueiras. No Equador houve “total abandono do cultivo”.

“Pode levar a perdas severas rapidamente e gerar problemas econômicos e sociais, como ocorreu com a VB (vassoura de bruxa) que atingiu a Bahia em 1989”, alerta Rios-Ruiz.

Em 2018, a CEPLAC criou o Grupo Nacional de Emergência Fitossanitária para Monilíases. Há dois anos, foi anunciado o Plano Nacional de Prevenção e Vigilância de Moniliophthora roreri (fungo causador da doença). Agora chegou a vez da Bahia se preparar para barrar a praga, o que não aconteceu com a vassoura de bruxa.

A Bahia responde por 70% da produção nacional de cacau, que em 2019 atingiu 130 mil toneladas. Dez por cento da produção é perdida para a vassoura de bruxa. Em março, a CEPLAC anunciou que pretende aumentar a produção anual de cacau em 60 mil toneladas, nos próximos quatro anos.

Olho Público conversou com produtores de cacau e entidades que representam empresas que processam o produto na Bahia. Na semana que vem, o blog vai reproduzir os anseios e expectativas de pessoas e empresas que correm risco de terem seus negócios afetados por crise semelhante ou pior do que a da vassoura de bruxa.

ANAJURE tentou, mas não conseguiu liberar cultos na Bahia

Antes de se tornar pivô da polêmica decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kassio Nunes Marques de liberar cerimônias religiosas presenciais em todo o Brasil, a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (ANAJURE) tentou, sem sucesso, liberar a realização de cultos na Bahia.

Conforme acórdão publicado no início de março, ao analisar um agravo regimental relacionado à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 703, aberta pela ANAJURE no STF, o ministro Alexandre de Moraes (relator) afirmou que a entidade “carece de legitimidade para a propositura da presente arguição, na medida em que congrega associados vinculados por convicções e práticas intelectuais e religiosas”.

O agravo apresentado naquela ocasião pela ANAJURE era direcionado a prefeitos de três municípios baianos (Itabuna, Capim Grosso e Serrinha), onde as atividades religiosas presenciais foram suspensas devido à pandemia de COVID-19.