Jequié: SEAP envia major para reestabelecer “ordem” em presídio

Por meio de portaria divulgada hoje (9 de julho), o titular da Secretaria de Administração Penitenciaria e Ressocialização da Bahia (SEAP), Nestor Duarte, entregou o controle da segurança no Conjunto Penal de Jequié (CPJ) ao major PM Jorge Ramos de Lima Filho.

O oficial, que também é diretor da Superintendência de Gestão Prisional, recebeu a missão de “promover o restabelecimento da ordem naquela unidade prisional”.

Na semana passada, mais precisamente no dia 1º de julho, um detento foi espancado e morto por prisioneiros no pátio do CJP. A confusão, segundo a nota da SEAP, foi controlada por policiais penais. Nenhum policial militar, policial penal ou funcionário foi ferido, e nem houve rebelião, sinaliza a informação enviada a Olho Público.

Na sequência desse episódio de violência, foi realizada operação de revista com participação da PM, que resultou no recolhimento de “materiais ilícitos”. O clima atual no CJP é “de perfeita ordem e funcionamento normal”, afirma a SEAP.

COVID-19: juíza baiana critica soltura de criminosos

Chamou a atenção de Olho Público a atitude da juíza Márcia Simões, da Vara do Júri e Execuções Penais e Medidas Alternativas, em decisão divulgada hoje (28 de abril). Ao negar liberdade a um homem de 21 anos acusado de homicídio praticado em Feira de Santana (BA), a magistrada utilizou boa parte de seu despacho para criticar a soltura de presos em virtude da pandemia. 

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tem recomendado a substituição da privação de liberdade de gestantes, mães, pais e responsáveis por crianças e pessoas com deficiência por prisão domiciliar. O objetivo dessa orientação é diminuir o risco de mortes por COVID-19 nos sistemas prisional e socioeducativo em todo o Brasil. 

Somando-se os registros desses dois sistemas, a pandemia já matou 322 pessoas. Funcionários de unidades penais são maioria: 222. Entre a população de internos, a COVID-19 já fez 159 vítimas fatais. Esses dados foram divulgados pelo CNJ no início de abril. 

Olho Público reproduz trechos do despacho: 

“Urge registrar também que os sentenciados que estão custodiados em estabelecimentos prisionais não foram submetidos a qualquer exame para verificar se são portadores do coronavírus. Sua reinserção em meio aberto, sem qualquer cautela sanitária, contraria as recomendações de isolamento social que constam do manual do Ministério da Saúde. Por óbvio, o Direito e a Medicina não estabelecem suas diretrizes de atuação com base em achismos. 

Supor que custodiados do sistema prisional, fora do grupo de risco, e mesmo esses, correm mais perigo de contágio que profissionais de saúde, de segurança ou pessoas que não podem deixar de trabalhar por estarem em vulnerabilidade social, contraria os rigores da ciência e da decisão ponderada que permeia a atividade jurisdicional, mesmo em períodos de crise. Aliás, são nas crises que se exigem mais ainda ponderação e cautela. 

Por conseguinte, o mais prudente é o isolamento dos presos em regime fechado e semiaberto, com suspensão de visitas, saídas temporárias e trabalho externo até a contenção da pandemia. Seria uma restrição racional, importando em uma razoável limitação de direitos, assim como a que está sendo imposta à população em geral”. 

Brumado e Irecê: impasse na ativação de presídios pode ter novo capítulo

Na última sexta-feira (12 de março), Olho Público noticiou que o lançamento dos editais de licitação para contratação das empresas que farão a cogestão dos presídios de Brumado e Irecê é um sinal de que as duas unidades prisionais, que estão sem uso desde a inauguração, há cinco anos, poderia estar perto de acontecer. No entanto, o impasse que envolve a legalidade da terceirização de atividade equivalente à de policial penal foi denunciada ao Ministério Público Federal (MPF), o que pode causar novos empecilhos à ativação dos dois presídios.

Por meio de um de seus dirigentes, o Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado da Bahia (SINSPEB) fez uma representação no MPF em Salvador solicitando o cancelamento das duas licitações, divulgadas na semana passada pela Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (SEAP), mas que estão adiadas em virtude da pandemia de COVID-19.

Conforme Olho Público revelou na semana passada, o Ministério Público do Trabalho, que é autor de uma ação civil pública contrária à terceirização, informou que não pretende interferir nas duas licitações, que só foram retomadas após decisão liminar do STF, que permitiu a terceirização nos dois presídios em caráter temporário, até que seja realizado concurso público para contratação de policiais penais (denominação atualizada do cargo de agente penitenciário).

Em 2019, o então procurador-geral da República, Alcides Martins, posicionou-se contra a tentativa do governo da Bahia de driblar a obrigatoriedade do concurso público, chamando atenção para que a insistência poderá provocar a “imediata cassação da liminar concedida” pelo STF. A representação feita pelo SINSPEB no MPF em Salvador está com a procuradora Flávia Galvão Arruti.

Presídios prontos, mas parados há cinco anos, estão perto da ativação

O impasse envolvendo os presídios de Brumado e Irecê, que se arrasta desde 2016, parece estar próximo do fim. Nesta semana, foram divulgados os editais de licitação para contratação de empresas que farão a cogestão das duas unidades prisionais. O valor estimado dos contratos é de R$ 54 milhões (Brumado) e R$ 51 milhões (Irecê). Os dois presídios terão o mesmo número de vagas (531) e serão equipados com bloqueadores de celular. Cada unidade prisional custou R$ 21 milhões ao governo da Bahia.

A razão dos presídios não estarem funcionando é o entendimento do Ministério Público do Trabalho (MPT) de que os agentes penitenciários não podem ser contratados diretamente pelos vencedores das licitações. O MPT, que em 2016 levou o caso à Justiça, argumenta que a profissão de agente penitenciário não pode ser terceirizada, por se tratar de atividade típica de estado, ou seja, reservada a aprovados em concurso. A denominação atualizada dessa função – policial penal – reforça esse entendimento, segundo o MPT.

O governo da Bahia, que tem entendimento contrário, já foi condenado pela Justiça por contratar agentes penitenciários em caráter temporário, sem concurso público. Em 2016, essa prática foi considerada ilegal pela Justiça da Bahia, que determinou a convocação de aprovados no concurso de 2014.

Em 2019, liminar do STF favorável ao governo da Bahia – e que foi mantida na segunda e terceira instâncias – liberou a terceirização de agentes penitenciários em Irecê e Brumado, acolhendo o argumento de que a ativação das duas unidades penais construídas em 2016 é necessidade urgente. No entanto, o STF determinou que a terceirização fosse feita mediante acordo entre o sindicato da categoria e o MPT, algo que já foi tentado, porém sem sucesso. Nova reunião, agendada inicialmente para a próxima semana, foi adiada devido à pandemia.

A liminar do STF não travou o andamento da ação ajuizada pelo MPT, o que significa que o caso poderá ser afetado por outras decisões. Provocado por Olho Público, o MPT informou que não vai interferir nas duas licitações, o que possibilitará o início de atividades nos dois presídios. No entanto, isso não garante que a contratação de agentes terceirizados não volte a sofrer interferência.

Olho Público também procurou a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (SEAP) para saber se já existe previsão de data para o início do funcionamento dos presídios de Brumado e Irecê, mas a assessoria de comunicação solicitou um pouco mais de tempo para enviar essa e outras respostas. Olho Público atualizará esta matéria assim que receber essas informações.