Porto Seguro vai ensinar “tratamento precoce” a Salvador?

Há poucos dias, as prefeituras de Salvador e de Porto Seguro assinaram termo de cooperação para compartilhamento de experiências em saúde. Como o aviso na imprensa oficial é genérico, Olho Público questionou à Casa Civil da Prefeitura de Salvador se o acordo envolve questões relacionadas à COVID-19 e àquilo que se conhece como “tratamento precoce”.

A razão desse questionamento é o fato de que a secretária da Saúde de Porto Seguro, que é parte no termo de cooperação, é defensora ferrenha do “tratamento precoce”. Raissa Soares, que é médica, divulga vídeos e outros conteúdos em redes sociais defendendo o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a COVID-19.

Em fevereiro, a prefeitura de Manaus aderiu ao “tratamento precoce” defendido por Raíssa Soares. O impacto desastroso da pandemia na capital amazonense sugere que o empirismo não reduziu a fila de leitos de UTI, tampouco zerou as internações por COVID-19 em Porto Seguro, informação desmentida por agências de checagem de fatos.

Olho Público procurou insistentemente as assessorias de comunicação da Casa Civil da Prefeitura de Salvador e da Secretaria da Saúde para saber se a troca de experiências com a Prefeitura de Porto Seguro envolve o “tratamento precoce” da COVID-19, mas não obteve resposta. É esperar para ver (ou não).

EMBASA aumenta lucro, mas não reduz desperdício

O Índice de Perdas de Distribuição (IPD) na rede atendida pela Empresa Baiana de Água e Saneamento (EMBASA) permanece no mesmo patamar, superando as taxas nacional e de outros estados do Nordeste. Análise feita por Olho Público do recém-divulgado Relatório da Administração da EMBASA aponta metas de interesse público que não foram atingidas em 2020.

A estatal é responsável pelo abastecimento de 366 dos 417 municípios baianos. Em 2020, a EMBASA pretendia reduzir seu IPD de 46,5% para 44,1%, mas houve aumento, com o índice atingindo 46,6%. Há pelo menos três anos, a EMBASA não consegue atingir suas metas de redução de desperdício de água, que permanece em patamar superior ao último dado nacional divulgado pelo Instituto Trata Brasil, que é de 38,5% (2018).

Olho Público procurou a EMBASA para saber por que a empresa não consegue reduzir o desperdício de água. A assessoria de comunicação da empresa confirmou o recebimento do questionamento, mas não enviou resposta ao blog. Em Alagoas, Sergipe, Paraíba e Ceará o índice de desperdício de água é inferior ao da estatal baiana.

A COVID-19 não comprometeu o desempenho econômico da EMBASA. O resultado de 2020 (R$ 242,9 milhões) representa acréscimo de 31% na comparação com 2019. No entanto, a pandemia é apontada como justificativa para o não atendimento de outras duas metas de interesse da sociedade: Acréscimo de Ligações de Água (ALA) e Acréscimo de Ligações de Esgoto (ALE).

O pior resultado foi o do ALE. A EMBASA pretendia encerrar 2020 com um acréscimo de 74,7 mil ligações, mas só fez 45,4 mil (39% abaixo da meta). No quesito universalização do acesso à água (ALA), foram feitas 97,8 mil ligações, desempenho 12% abaixo da meta de 111,2 ligações.

No caso do esgoto, o resultado abaixo da meta coincide com uma redução de 12% no investimento feito pela EMBASA. Em 2019, a empresa gastou R$ 239 milhões com serviços de esgotamento sanitário, mas em 2020 esse valor caiu para R$ 210 milhões. Em seu relatório, a empresa atribui esse desempenho à redução do número de ligações de água, serviço afetado pela diminuição do atendimento presencial.

SAEB explica motivo do descredenciamento do IMEGI como OS

Na semana passada, Olho Público noticiou em primeira mão a perda do status de Organização Social (OS) do Instituto Médico de Gestão Integrada (IMEGI), entidade que em 2019 foi envolvida em suposto esquema de superfaturamento em contratos com a Prefeitura de Salvador. Nota enviada hoje (26 de abril) pela Secretaria da Administração da Bahia (SAEB) confirma que essa decisão é consequência da Operação Kepler.

Olho Público procurou a Secretaria da Saúde (SESAB) para saber as razões que motivaram a aplicação da penalidade ao IMEGI, mas esse ato é do Conselho de Gestão das Organizações Sociais (CONGEOS). Embora tenha participação do secretário estadual da Saúde, o CONGEOS é presidido pelo titular da SAEB, Edelvino da Silva Góes Filho.

A SAEB informou a Olho Público que a punição aplicada em caráter cautelar ao IMEGI foi tomada “após o CONGEOS ter sido informado sobre a Operação Kepler”. Sem o status de OS, o IMEGI fica impedido de realizar contratos com o governo da Bahia na área da saúde.

Embora o IMEGI não seja prestador de serviços à administração estadual, a SAEB esclareceu que a medida foi “balizada por orientação jurídica”, com o objetivo de preservar os recursos públicos “de um eventual contrato celebrado futuramente”. A nota diz ainda que foi aberto processo que pode levar à desqualificação definitiva do IMEGI como OS.