Operação Janus: em 13 anos, ação penal acumula 12 juízes declarados suspeitos

Há vários dias, Olho Público tenta obter do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) qual providência será adotada para retomar o andamento da ação penal que envolve 14 réus denunciados por corrupção pela Operação Janus, em 2008. No processo que já se arrasta por 13 anos, sem produzir sentença condenatória, Olho Público encontrou uma situação inusitada: em etapas diferentes do processo, 12 juízes se esquivaram de tomar decisões, declarando-se suspeitos “por razões de foro íntimo”.

Conforme noticiado em primeira mão por Olho Público em 20 de março, o andamento da ação penal está suspenso porque três juízes de uma lista tríplice declararam-se suspeitos. Olho Público questionou ao TJ-BA se há previsão para formação de uma nova lista tríplice, mas não obteve resposta. Por diversas vezes, a assessoria de comunicação do TJ-BA alegou não ter recebido o pedido de informações, apesar do fato de a solicitação ter sido enviada mais de uma vez, por meio de contas em provedores diferentes.

Deflagrada em 2008, a Operação Janus revelou um esquema de venda de facilidades em processos no Judiciário baiano por valores que chegavam a R$ 20 milhões. A ação penal que caminha a passos lentos foi ajuizada naquele ano. Entre os 14 réus desse processo estão dois ex-assessores de desembargadores, uma ex-assessora de juíza, um filho de juíza e um estagiário de direito, além de advogados e empresários.

Olho Público apurou que em pelo menos três situações o processo voltou para juízes que já tinham declarado suspeição.  O ritmo lento da ação penal, que ainda está na primeira instância, poderá contribuir para reduzir o peso das punições aplicadas, especialmente para os réus com idade avançada.

Resolução do TJ-BA divulgada na edição de ontem (25 de março) do Diário da Justiça sinaliza que na “Estratégia do Poder Judiciário da Bahia para o sexênio 2021-2026” estão incluídas as metas de “reduzir, anualmente, em, ao menos, 4% a duração dos processos” e “reduzir, no mínimo, 5% a taxa de prescrição dos processos criminais referentes à crimes de corrupção”.

Olho Público encaminhou um pedido de informações ao Ministério Público da Bahia para saber se o órgão tem conhecimento do significativo número de juízes que se declaram suspeitos na ação penal que envolve os 14 réus denunciados pela Operação Janus. Olho Público também perguntou se alguma medida será tomada pelo MP para que a ação não seja paralisada por falta de juiz.

Aos questionamentos feitos por Olho Público, o MP respondeu da seguinte forma, por meio de mensagem enviada pela assessoria de comunicação: “Suas questões todas pertinentes ao Poder Judiciário, por favor procure a assessoria de imprensa de lá para resolução de suas dúvidas”.


Leu essa matéria em outro local? Saiba que ela foi publicada originalmente por Olho Público. Todas as informações publicadas aqui são dadas em primeira mão, mas podem ser republicadas, desde que Olho Público seja citado como fonte da informação.

Operação Janus: processo criminal para por falta de juízes

Três juízes que poderiam julgar 14 réus em uma ação penal por corrupção passiva ligada à Operação Janus se declararam suspeitos por razões de “foro íntimo”. Dessa forma, o processo relacionado à investigação revelada em 2008 pode sofrer uma pausa, até que nova lista tríplice de juízes seja sorteada pelo Tribunal de Justiça da Bahia.

Apesar de o último juiz da lista ter sinalizado em 28 de fevereiro que não poderia julgar a ação, com a observação da necessidade de sorteio de nova lista tríplice, essa informação só foi publicada no Diário da Justiça Eletrônico de quinta-feira (18 de março), conforme pesquisa feita por Olho Público.  

Deflagrada em 2008, após investigação da Polícia Federal e do Ministério Público da Bahia, a Operação Janus revelou suposto esquema de venda de decisões judiciais com participação de advogados, servidores do Judiciário, o filho de uma juíza e um ex-assessor de um desembargador. As facilidades em processos eram vendidas por valores que chegaram a R$ 20 milhões.

Em 2009, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) afastou preventivamente e abriu processo disciplinar contra duas juízas baianas que também estariam envolvidas na negociação de sentenças, conforme informações obtidas de gravações telefônicas da Operação Janus.

Conduzida em sigilo, mas com acompanhamento da Corregedoria do Tribunal de Justiça, a Operação Janus causou profundo mal-estar no universo jurídico da Bahia. Parte dos réus foram presos e alguns foram considerados foragidos.

A Janus é considerada “mãe” da Operação Faroeste, que 2019 também revelou suposto esquema de venda de sentenças no Judiciário da Bahia, com envolvimento de juízes e desembargadores.

Olho Público entrou em contato com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça da Bahia para saber se há previsão de data para o sorteio de uma nova lista tríplice de juízes. Essa matéria será atualizada assim que a resposta chegar.

Game “Minecraft” está na mira do Ministério Público da Bahia

Um dos jogos para computador, consoles e celulares mais populares do mundo, com mais de 126 milhões de jogadores, virou alvo de um inquérito civil do Ministério Público da Bahia. O caso começou a ser analisado em 2019, pelo Núcleo de Crimes Cibernéticos. O objetivo do processo é apurar “a existência de jogos destinados ao público infantojuvenil, com conteúdo de ‘apologia e incitação a crimes contra a vida’ denominado ‘Monster School’”.

Apesar de não haver referência direta a Minecraft, Olho Público apurou que Monster School é um mod (abreviatura em inglês para modificação) para o game. Há uma infinidade de mods disponíveis para download, sendo que a maioria foi criada pela própria comunidade de usuários. Existem várias versões de Monster School, pois um mod também pode ser adaptado por fãs e relançado.

Na prática, ninguém é obrigado instalar mods com conteúdo violento ou não recomendável para crianças e adolescentes. Existem modificações interessantíssimas para o Minecraft, a exemplo de Solar System Mod, que cria uma experiência de visita a outros planetas do sistema solar.

Olho Público não é fã de games e nem entende muito do assunto, mas espera ter dado uma singela contribuição ao trabalho do Ministério Público.

“Lockdown” vai paralisar atendimento em delegacias da Bahia

Procurado na manhã desta quarta-feira (17 de março) por Olho Público, o Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (SINDIPOC) confirmou que categoria deve aderir à paralisação programada para amanhã (18 de março). Batizado de “Lockdown da Segurança Pública – Pela imediata vacinação dos policiais”, o ato foi convocado pela Federação Interestadual dos Trabalhadores Policiais Civis da Região do Nordeste (FEIPOL NORDESTE), o que significa que a paralisação pode acontecer em todos os estados nordestinos.

Olho Público conversou por telefone com Eustácio Lopes de Oliveira Filho, presidente do SINDIPOC. Ele confirmou que a paralisação programada para amanhã acontecerá das 8h ao meio-dia. Neste horário, segundo o dirigente sindical, o atendimento nas delegacias da Bahia (capital e interior) ficará suspenso, com exceção para os casos de flagrante e levantamento cadavérico.

Eustácio informou a Olho Público que o SINDIPOC não fez um comunicado formal à Secretaria de Segurança Pública da Bahia sobre o “Lockdown” programado para amanhã. No entanto, um aviso publicado pela FEIPOL na edição de hoje do Diário Oficial da União convoca “todos os Sindicatos filiados dos policiais civis da região Nordeste” para um grande ato de paralisação geral”. O efetivo da polícia civil na Bahia, segundo Eustácio, é formado por 5,4 mil pessoas. Levantamento do SINDIPOC afirma que a COVID-19 já causou a morte de 20 policiais baianos.

Polícia responde

Procurada por Olho Público, a Polícia Civil da Bahia respondeu, por meio de nota, que “os atendimentos estarão mantidos nas delegacias,  e que o cidadão também poderá utilizar a Delegacia Digital (www.delegaciadigital.ssp.ba.gov.br) para os registros classificados na plataforma”.

Sobre a reivindicação do SINDIPOC e da FEIPOL NORDESTE para que os policiais sejam vacinados, a nota afirma que “o Gabinete da Delegada-Geral acompanha os pleitos e já demandou à SSP acerca da inserção das carreiras policiais civis como grupo prioritário para vacinação. No entanto, reconhece que a decisão sobre a matéria em questão é atribuição das autoridades sanitárias estaduais e nacionais”.

Brumado e Irecê: impasse na ativação de presídios pode ter novo capítulo

Na última sexta-feira (12 de março), Olho Público noticiou que o lançamento dos editais de licitação para contratação das empresas que farão a cogestão dos presídios de Brumado e Irecê é um sinal de que as duas unidades prisionais, que estão sem uso desde a inauguração, há cinco anos, poderia estar perto de acontecer. No entanto, o impasse que envolve a legalidade da terceirização de atividade equivalente à de policial penal foi denunciada ao Ministério Público Federal (MPF), o que pode causar novos empecilhos à ativação dos dois presídios.

Por meio de um de seus dirigentes, o Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado da Bahia (SINSPEB) fez uma representação no MPF em Salvador solicitando o cancelamento das duas licitações, divulgadas na semana passada pela Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (SEAP), mas que estão adiadas em virtude da pandemia de COVID-19.

Conforme Olho Público revelou na semana passada, o Ministério Público do Trabalho, que é autor de uma ação civil pública contrária à terceirização, informou que não pretende interferir nas duas licitações, que só foram retomadas após decisão liminar do STF, que permitiu a terceirização nos dois presídios em caráter temporário, até que seja realizado concurso público para contratação de policiais penais (denominação atualizada do cargo de agente penitenciário).

Em 2019, o então procurador-geral da República, Alcides Martins, posicionou-se contra a tentativa do governo da Bahia de driblar a obrigatoriedade do concurso público, chamando atenção para que a insistência poderá provocar a “imediata cassação da liminar concedida” pelo STF. A representação feita pelo SINSPEB no MPF em Salvador está com a procuradora Flávia Galvão Arruti.